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Dignidade encarcerada

Um Olhar Sobre a Invisibilização das internas de mata escura
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Dignidade encarcerada

Um Olhar Sobre a Invisibilização das internas de mata escura

Um lugar que expressa seus sentimentos

por: Kelly Ramaiany

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Foto: Divulgação/Lemos de Brito

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A Penitenciária Lemos de Brito, criada em 08 de março de 1998, em Salvador – BA, tem seu potencial. O complexo feminino já começa com uma data importante, no dia internacional da mulher, e abrigando várias mulheres.

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De fora já dá para sentir a enormidade do lugar. Por dentro ele expressa o que é visto de fora. No início percebe-se de cara uma área verde, bem ampla, que indica a imensidão daquele lugar, uma esperança de vida ao local. O barulho das árvores, alguns pássaros cantando, diz que a natureza vive ali e que a paz pode ser sentida. Se não soubesse do que se trata, ou a entrada para uma visita fosse de olhos vendados, poderia imaginar outro tipo de lugar.

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Ao andar, observar, visualizar, sente-se tudo até com o vento. O ar é solitário. Apesar de ser visto como uma casa, não dá para ser um lar, o pragmatismo e a falta de liberdade são as maiores causas disso, mas a falta da presença de afeto é o maior motivo da solidão. 

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O ambiente é limpo, com uma boa estrutura, mas frio, as paredes, as cores, as camas, não demonstraram acolhimento total. As salas vistas são arejadas, confortáveis e a solicitude dos envolvidos foi um ponto chave no desenvolvimento de tudo. Os corredores são práticos, várias salas que representam determinadas funções e que cada detenta conhece quando chega ao complexo.

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Em um momento a sala de arquivo se apresenta, onde as caixas coloridas mostram mais do que as cores, elas guardam vida, histórias, crimes e a passagem dessas mulheres pelo presídio, que ao partir para aquela caixinha podem mudar suas perspectivas, ir além do arquivamento.

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Logo em seguida uma porta preta, assustadora, trancada, escondida, despertando curiosidade. Ao lado uma caixa de areia, simples e de praticidade, ao questionamento: “sala de armamento, se precisarem ser usadas são antes colocadas na caixa, para que se houver disparo, não machucar ninguém”. 

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“E os urubus passeiam entre os girassóis”, relatos estão por toda a parede e teto, narrando histórias e desabafos, pessoas já viveram ali sozinhas e se vendo nesse abandono usaram de versos para se libertarem. O retrato de uma das celas mesmo não habitada é incômodo, apertada, sem calor, sem vista e ambientando todo abandono possível, trazendo mais perspectiva de solidão e a vida que a falta de novos ares pode roubar. 

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Por outro lado, celas habitadas mesmo pequenas e divididas são preenchidas com pequenos detalhes das personalidades que vivem ali. Mesmo escasso, com pouco acesso, o jeitinho de cada detenta se mostra presente naquele espaço e traz à tona pequenos desejos. O ideal está longe, porém as cores e os pequenos detalhes espussam o sufocamento existente, dando um pouco de luz. Mas a caminhada é tão grande, e apesar de difícil, é preciso ter paciência na espera.

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As grades são uma presença constante, é necessário esforço para não sufocar, não causar agonia e ter esperança. Existe consolo em amizades, algumas duram, outras são passageiras, e o contato uma com as outras faz o tempo andar no complexo. É preciso se apegar a tudo que conseguir e se manter seguro em algo. 

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Nem tudo está perdido. Há livros. Vários deles as detentas têm acesso, e neles sabe-se que a liberdade se vê presente, tiram qualquer um que se disponibilize a sair do lugar que está, sendo levado através de mundos, através de paredes, através de grades. Acalenta o coração saber que páginas podem salvar, podem libertar e trazer vida e arrependimentos. Divertir, distrair e fazer suspirar, na leitura encontra-se um amigo e uma válvula de escape para os apreciadores. Incentivar e liberar acesso a esse tipo de liberdade é um gesto nobre, que gera admiração e percebe-se que nem tudo é ruim.

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É sabido também que o acesso às aulas, assim como os livros, é possível. Algumas delas os livros são usados para resumos e não só distração, como ensinamentos de um jeito prático e envolvente. A educação transforma, o acesso à ela no complexo feminino de Salvador é admirável e transformador. 

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Quando se trata de vidas, é preciso uma empatia, um acolhimento. Os animais e plantas fazem milagres, passar por eles, sentir toda a vida que respira e dar graça, é de pensar: alguém consegue sentir isso? Em meio a tantas incertezas e privações, tudo pode ser entendido como ajuda e o ar de solitário, pode sair mais leve.

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O que você acha de viver nessas condições?

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